Saiba como mudar o mindset e livrar-se do medo de escrever

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Imagine-se acordando todas as manhãs com uma imensa vontade de escrever e energia suficiente para preencher o seu dia criativo. Sem desculpas, receios ou distrações, apenas você e sua sede. Para alguns pode parecer impossível, mas não é: basta mudar o mindset.

Não sou fã das fórmulas prontas. Nem de artigos e livros que dizem tudo é possível com o poder do pensamento. Para mim, a mente é apenas o início do processo, o passo mais tímido que damos. Porém, nada acontece só de devaneios. É preciso colocar a mão na massa para conquistar algo.

O artigo abaixo é baseado no livro Mindset: A nova psicologia do sucesso, de Carol S. Dweck (link afiliado), professora e ph.D em psicologia que dedicou mais de 20 anos em sua pesquisa sobre psicologia social e personalidade. Em seu trabalho, ela divide o mundo em dois tipos de mindset:

  • Mindset fixo: pessoas que não acreditam na evolução através do esforço, tanto por se acharem incapazes, quanto por se julgarem extremamente boas em algo;
  • Mindset de crescimento: pessoas que acreditam que é possível aprender qualquer coisa, ou ainda que sabem que sempre é possível aprimorar técnicas já aprendidas.

Claro que somos todos diferentes e essas divisões dicotômicas não fazem muito sentido na vida real, mas, para fins de elucidação, seguirei a lógica do livro.

O dom não existe

Carol deixa claro que não é preciso ter dom para ser bom em algo, não importa no que seja. O livro está repleto de exemplos de empreendedores, esportistas, artistas e relacionamentos interpessoais que embasam a afirmação. Em muitos dos exemplos citados, inclusive, fica implícito que as pessoas que eram consideradas geniais em suas áreas nem sempre foram bem sucedidas em seus propósitos pela falta de adaptação.

Para sair do ponto A e chegar ao ponto B é preciso esforço, paciência e humildade. A mera força do pensamento não fará com que apareça um romance de 20 mil palavras muito bem escrito e com o seu nome na capa.

O problema é que nós gostamos de admirar os gênios. São nossos ídolos intocáveis. Aquele escritor que acompanhamos, com textos tão eloquentes e fluídos, só pode ter nascido com o dom da escrita. Nunca chegarei lá, nos repetimos. E nos enganamos.

Desvalorizamos o esforço, o trabalho por trás do que já está pronto. É muito mais fácil sonhar com o ponto do final da narrativa perfeita do que trabalhar nas primeiras linhas do texto. E é exatamente aí que precisamos mudar o mindset.

Insista, persista, não desista

Ter ou não ter dom é irrelevante. Para sair do ponto A e chegar ao ponto B é preciso esforço, paciência e humildade. A mera força do pensamento não fará com que apareça um romance de 20 mil palavras muito bem escrito e com o seu nome na capa. Para Carol, três pontos diferenciam as pessoas com mindset de crescimento dos demais:

  • Elas se divertem ao serem desafiadas;
  • Elas se esforçam para aprimorar suas técnicas, mesmo quando já dominam muito bem o assunto;
  • Elas aprendem com o fracasso.

Já percebeu como algumas pessoas parecem não se abalar com as intempéries da vida? Que continuam trabalhando mesmo quando tudo parece estar dando errado? Eu mesma preciso me esforçar muito para manter o foco e não me descabelar certas horas.

Ao nos libertarmos das algemas do medo e descermos do pedestal da arrogância, deixamos o mindset fixo de lado e começamos a trabalhar com o que está ao nosso alcance.

O Rafael Marçal é um exemplo de mindset de crescimento. Ele publicou sua primeira tinha no final de 2009 só com bonecos palitinho. Sinceramente, parece até besteira pensar que ele evoluiria algum dia. Hoje, oito anos depois, ele não só aprendeu a desenhar como publicou cinco coletâneas de tirinhas (parte delas viabilizadas através do financiamento coletivo) e tem uma boa base de leitores, alguns que até apoiam o trabalho dele mensalmente.

Sempre há tempo para aprender

Outro alicerce do estudo de Carol é de que podemos mudar o mindset. Ao nos libertarmos das algemas do medo e descermos do pedestal da arrogância, deixamos o mindset fixo de lado e começamos a trabalhar com o que está ao nosso alcance. Utilizamos as ferramentas que temos e descobrimos outras. De repente, a mudança acontece.

Essa é a magia do mindset: não há o que não possa ser aprendido e aperfeiçoado, basta que mudemos a perspectiva. O receio de escrever sempre nos assombrará, mas a prática diária, as motivações e o cuidado com o texto farão com que sejamos cada vez melhores no que nos propusemos a fazer.

Uma vitória por dia

Passemos longe da força cósmica do poder do pensamento. Mudar o minset significa apenas ver a mesma questão sob uma nova perspectiva. Encarar os desafios não como obstáculos intransponíveis, mas como formas de atingir o objetivo. Os problemas continuarão sendo problemas e os boletos continuarão sendo boletos, não importa o que você pense. O que muda é a sua forma de resolver as questões.

Por isso, deixe de lado suas desculpas e foque no seu objetivo. Faça boa arte, já diria Neil Gaiman. Escreva mais para escrever melhor e escreva melhor para escrever mais. Mude hoje a sua visão sobre a escrita e perceberá que era só isso que faltava para começar a produzir.

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Quem escreve sobre escrita

Mylle Pampuch

Mylle Pampuch escreve e edita livros. Publicou as histórias em quadrinhos A Samurai e Doce Jazz e os livros de contos A Sala de Banho e Realidades pré-distópicas (& modos de usar). Ministra oficinas de escrita criativa, orienta autores em seus projetos literários e incentiva todos que queiram a escrever e publicar suas próprias histórias.

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