Como fazer um livro: aprenda quais são as partes internas de um livro impresso e planeje o seu

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Este é o segundo artigo da série Como Fazer e Registrar um Livro. Na primeira parte, abordei as partes externas de uma publicaçãocapa, lombada, orelha, sobrecapa, cinta e luva.

No artigo abaixo, fiz uma descrição detalhada com tudo o que você precisa saber para selecionar e planejar as partes internas do seu livro, da primeira até a última página.

A série completa é composta por três artigos:

Parte 01Como fazer um livro: conheça as partes externas de um livro e comece a planejar sua próxima publicação

Parte 02Como fazer um livro: aprenda quais são as partes internas de um livro impresso e planeje o seu

Parte 03Como registrar um livro: tudo que você precisa saber para registrar sua obra

Partes internas – o miolo do livro

Se a parte externa é o primeiro contato que o leitor terá com o seu livro, a parte interna é seu conteúdo. Normalmente, quando pensamos em como fazer um livro, nos dedicamos em produzir um texto de qualidade, mas nem sempre refletimos em como organizá-lo de forma coerente para que o leitor encontre o que procura.

Selecionei as partes que considero mais importantes para um bom planejamento do seu livro. Lembre-se, porém, que você não é obrigado inserir todas as sessões descritas, já que cada projeto possui demandas particulares.

Folha de Guarda

É a folha que fica entre a Capa e a Folha de Rosto. Normalmente usada em livros de capa dura, ela pode tanto estar colada na capa, funcionando como segunda e terceira capas, ou solta, para proteger o miolo do livro.

Falsa Folha de Rosto

É a primeira página opcional de um livro, na qual são colocados pouquíssimos elementos, como o título da obra ou alguma ilustração que o represente. Muitos artistas – em especial os desenhistas – gostam de inserir essa página na publicação já pensando no espaço para os autógrafos.

Folha de rosto

É a verdadeira folha de rosto, tal qual como é exigida para o registro do ISBN. O topo da página deve conter o nome do autor; no centro, o título da obra; e no rodapé, a cidade de origem, o ano de publicação e o nome da editora.

Expediente

É uma das páginas mais importantes do livro, pois contém informações dos participantes, da editora e para catalogação. Todos os créditos da obra devem ser colocados aqui, bem como as informações básicas para contato. Ilustradores, tradutores, diagramadores, editores, etc devem ser mencionados. O nome da editora, seu endereço físico, sites, redes sociais, telefones e e-mails também.

Outro elemento importantíssimo é a ficha catalográfica: é ela que garante a catalogação do seu livro dentro das bibliotecas. Aquele quadrado cheio de códigos e números nem sempre óbvios dever ser elaborada apenas por um bibliotecário. Caso você precise de uma ficha, procure a biblioteca pública da sua cidade ou fale comigo que eu tenho um ótimo contato que presta esse serviço.

Dedicatória e agradecimentos

A dedicatória de um livro é como um presente que você dá a alguém: talvez a pessoa não ter fez nada diretamente para a realização do projeto, mas ela pode ter sido uma fonte de inspiração, força, compreensão ou garantia de boletos pagos, não importa. Você dedica a sua obra a alguém sem precisar explicar o motivo.

Já os agradecimentos são mais diretos, porque você agradece a alguém por alguma coisa. Agradeço a fulano pela paciência, a ciclano pelos ensinamentos, a beltrano pelo patrocínio, etc.

De certa maneira, o agradecimento tem uma característica mais política porque, ao citar o nome de alguém, você deixa claro que esse alguém – talvez alguém de renome na sua área – te ajudou de alguma forma. Já a dedicatória é puro amor, você a está fazendo porque quer e não para, de certa forma, devolver algo.

Epígrafe

É uma citação ou trecho escrito por outro autor que “conversa” com o seu livro. Por exemplo, digamos que minha epígrafe seja:

“Ser ou não ser, eis a questão”.

Shakespeare

Ao escolher tal frase, estou assumindo que, em maior ou menor grau, a minha obra é inspirada nela ou ainda é atravessada por ela, seja por seu sentido, pelas questões que a englobam, etc.

A epígrafe é uma das muitas formas de intertextualidade discutidas por Tiphanie Samoyalt em seu livro A Intertextualidade.

Sumário

É uma lista resumida das sessões importantes da obra e suas respectivas páginas. Lembre-se que a contagem do sumário começa a partir de agora, não sendo necessário inserir as sessões anteriores a ele (folha de rosto, dedicatória, agradecimentos, epígrafe ou expediente).

Pense também no sumário como uma segunda sinopse do seu livro, já que muitos leitores o consultam para ver quais assuntos são abordados antes de realizar a compra. Por isso, seja o mais claro e objetivo aqui, principalmente se o seu conteúdo é técnico.

Prefácio e apresentação

A apresentação de uma obra é um texto escrito por algum convidado, normalmente alguém que tenha certo reconhecimento ou seja o mentor daquele trabalho. Como o próprio nome já diz, é um texto que apresenta o livro, dando um aval de que vale a pena ler o conteúdo que o segue.

Já o prefácio é uma introdução escrita pelo próprio autor. Em romances, pode tratar de fatos ocorridos antes do início da narrativa. Em livros teóricos, é uma espécie de explicação ou justificativa do que motivou o escritor a pesquisar determinado assunto. É comum também encontrarmos vários prefácios seguidos em novas edições, explicando quais alterações foram realizadas.

Tanto o prefácio quanto a apresentação são as últimas sessões antes do conteúdo do livro.

Conteúdo e Capítulos

É a menina dos olhos de todo livro. É a ele que dedicamos quase todo o nosso tempo de pesquisa, de desenvolvimento e de escrita. É a parte que queremos, de fato, que todo mundo leia.

Cabe ao autor decidir como ela será dividida, dependendo das características de cada obra. Um romance pode ser divido ou não em capítulos, assim como também pode ser 300 páginas de texto corrido. Já um livro de poesias pode ter um verso por página, com muito espaço livre.

Em um livro teórico, porém, pela sua característica informativa, é mais comum termos divisões e subdivisões de capítulos, contribuindo assim para a organização da informação. Dessa forma, quando o leitor olhar o seu sumário, verá que o texto está bem organizado e encontrará, sem dificuldade, o assunto que procura.

Posfácio

São informações posteriores à obra, com o intuito de fechamento, conclusão. Se o final do seu romance ficou em aberto, por exemplo, você pode escrever aqui um final ou uma nova aventura para os seus personagens.

Já no livro teórico, o posfácio funciona como uma conclusão pessoal sobre como foi a experiência de pesquisa, se os resultados foram os esperados e o que, eventualmente, pode ter mudado na vida do autor após a elaboração da obra.

Apêndices e Extras

Tudo o que você quer mostrar e não sabe muito bem onde colocar. Vale inserir aqui entrevistas, fotos, imagens da produção, estudos de personagem, anotações, curiosidades e outras informações legais que você queira dividir com o seu leitor.

Glossário

É o dicionário particular da sua obra. Se o seu livro traz muitas palavras estrangeiras, termos técnicos ou pouco usados, reserve um espaço para fazer uma lista de palavras e seus respectivos significados. Os leitores agradecerão.

Referências bibliográficas

É uma lista de livros, sites, músicas, filmes, revistas, jornais e o que mais você tenha consultado para elaborar a sua pesquisa. Muito comum em livros teóricos, as referências bibliográficas são quase que obrigatórias e ajudam o leitor a continuar suas leituras na área.

Índice

Ao contrário do sumário, o índice é todo detalhado. É uma listagem organizada de palavras, temas, assunto e tópicos. Normalmente são elaborados em ordem alfabética ou cronológica (de acordo com a aparição na obra) e tem por objetivo ajudar o leitor a encontrar um assunto bem específico de forma rápida dentro do livro.

Colofão

É a minha parte preferida de um livro – e eu desconhecia seu nome até começar a pesquisar para esse artigo. Você já leu as informações da última página de uma publicação, aquela grudadinha com a terceira capa? É lá que o editor coloca os segredos da edição, como número de cópias impressas, papéis e fontes usadas, a gráfica onde o livro foi impresso, etc.

Para mim essa sessão sempre foi um desvendar do mistério do livro, na qual os editores conversam e encontram dicas dos colegas na arte de publicar.  

O livro não acaba aqui

Caso ainda não tenha lido, recomendo que visite também o primeiro artigo da série – Como fazer um livro: conheça as partes externas de um livro e comece a planejar sua próxima publicação.

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Quem escreve sobre escrita

Mylle Pampuch

Mylle Pampuch escreve e edita livros. Publicou as histórias em quadrinhos A Samurai e Doce Jazz e os livros de contos A Sala de Banho e Realidades pré-distópicas (& modos de usar). Ministra oficinas de escrita criativa, orienta autores em seus projetos literários e incentiva todos que queiram a escrever e publicar suas próprias histórias.

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