Explorando ideias do amor ao ódio: um exercício de escrita criativa

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Quem escreve, sabe: nem sempre a vontade de escrever vem acompanhada de ideias. Seja inspiração, musa, iluminação, lampejo, faísca, clique… Há dias em que “aquilo” não surge, por mais que nos esforcemos. Mas calma, calma que tenho um exercício de escrita criativa especial para contornar o “branco” e manter aquecidas as turbinas da criação.

A importância de criar um banco de ideias

Digo e repito: de nada vale a inspiração sozinha. Ela até pode ser essencial no ato da criação, mas é muito volúvel; vai e volta sem aviso prévio. Por isso, é melhor ter outras opções para desenvolver seus textos ao invés de depender exclusivamente dela.

Quando questionados sobre seus processos de escrita, muitos autores dizem que mantêm papel e caneta por perto para anotar as ideias que surgem – e isso, de fato, funciona muito bem. Outros tantos dizem que escrevem todos os dias, mas sempre dão a impressão de que estão trabalhando em algum romance ou projeto.

O que eles escrevem, então, quando não têm sobre o que escrever?

Escritores escrevem sobre qualquer coisa porque, para eles, escrever é um exercício.

Portanto, o primeiro passo é criar um banco de ideias para evitar que você fique sem saber sobre o que escrever. Agora, como você fará isso, varia. Cada escritor possui um processo criativo e cabe apenas a você descobrir o seu.

Meu conselho é: teste várias formas até descobrir a que funciona melhor.

O exercício a seguir é uma maneira direcionada de buscar ideias para escrever e depois cruzá-las com o intuito de criar uma narrativa.

Listas de amor e ódio

Para começar, você criará duas listas: uma com dez coisas que você ama e outra com dez coisas que você odeia. Seja o mais específico possível. Escolha lugares, pessoas, situações, refeições, momentos, lembranças… Vá fundo!

Escreva os itens da lista de forma que, assim que você os reler, saberá exatamente do que se trata. Utilize adjetivos se achar necessário.

Ao terminar suas listas, você terá material para dez sessões de escrita. Basta sentar e escrever.

Escolhendo e desenvolvendo o tema

Com as listas em mãos, chegou o momento de definir o seu tema. A única regra é começar com o tópico de uma lista e terminar com outro. Assim, você tem duas opções:

1. Começar com algo que você ama e terminar com o que você odeia

ou

2. Começar com algo que você odeia e terminar com o que você ama

A extensão do texto ficará por sua conta e risco. Você pode escrever um parágrafo, uma página, um número específico de palavras; depende apenas do tempo que você deseja investir no exercício.

Aconselho sempre a meus alunos que eles adicionem algum tipo de objetivo ao exercício, como um número mínimo de palavras – ou o espaço no papel, caso você seja mais analógico – ou um tempo limite. Faça testes e descubra com qual meta você se adapta melhor.

Outro detalhe importante é ter sempre em mente que estamos falando de um exercício de escrita criativa e, como exercício, você precisa deixar fluir.

Desapegue-se de certo ou errado, coerência, regras gramaticais; apenas escreva. Terminado o exercício, dê um tempo e releia o seu texto para lapidá-lo e publicá-lo, caso você tenha vontade.

O mundo é sua caixa de ideias

Às vezes ficamos esperando a grande ideia aparecer e não nos damos conta de que, como diz uma música dos Titãs que eu adoro, “as ideias estão no chão, você tropeça e acha a solução”.

Ao invés de ficar se repetindo que não sabe sobre o que escrever, ultrapasse os limites que você se colocou, sente e escreva. Se você deseja, de verdade, ser escritor, faça o que for preciso para inserir a escrita na sua vida diária, nem que seja 10 minutos por dia.

Comece com o que você tiver por perto. Objetos, sentimentos, fotografias, pessoas; todos são fontes de ideias. Com o tempo e a prática, você perceberá que as ideias fluirão sozinhas na sua cabeça. Anote-as e guarde-as para depois.

A caminhada da escrita é diferente para cada um, e é isso que, ao mesmo tempo, atrai e afasta tantas pessoas. Se você sonha em ser escritor, siga e enfrente; mas também materialize e faça.

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Quem escreve sobre escrita

Mylle Pampuch

Mylle Pampuch escreve e edita livros. Publicou as histórias em quadrinhos A Samurai e Doce Jazz e os livros de contos A Sala de Banho e Realidades pré-distópicas (& modos de usar). Ministra oficinas de escrita criativa, orienta autores em seus projetos literários e incentiva todos que queiram a escrever e publicar suas próprias histórias.

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