O que é escrita terapêutica (+ 9 dicas de como começar a praticá-la)

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Todos passamos por traumas e somos inundados por sentimentos adversos ao longo de nossas vidas — e isso é normal. No entanto, quando esses sentimentos são tão intensos a ponto de nos paralisar, é sinal de que precisamos equilibrá-los — e uma das maneiras de fazer isso é através da escrita terapêutica.

O que é escrita terapêutica

Escrita terapêutica é a prática de escrever, da forma mais honesta e sem julgamentos possível, sobre traumas, preocupações e emoções diversas. Apesar de parecer simples, uma vez colocados para fora, os sentimentos são compreendidos de outra forma por quem os escreveu.

A vantagem de escrever sobre os seus sentimentos (especialmente para quem é tímido ou sente dificuldade em falar sobre o que sente) é a possibilidade de se abrir mais escrevendo do que se estivesse conversando com alguém. 

Ao escrever sem receio sobre o que sentimos, temos um novo ponto de vista sobre nossos conflitos. A partir disso, olhamos nossas questões de fora, gerando reflexões e apontando novos caminhos possíveis.

Ao contrário do que se pode pensar, não apenas escritores, mas todos podem se beneficiar com a escrita terapêutica. 

As páginas matinais

Em seu livro O caminho do artista, a autora Julia Cameron apresenta as páginas matinais, uma versão interessante de escrita terapêutica desenvolvida por ela. 

Começar as suas páginas matinais é simples:

  • Acorde;
  • Pegue três folhas soltas e um lápis;
  • Escreva três páginas começando com qualquer assunto;
  • Ao terminar, guarde as folhas em um envelope pardo.

Após passar períodos de bloqueio criativo e de muitas dúvidas sobre o futuro, Julia começou a escrever as páginas matinais. Em seu livro, ela conta que, assim que acorda, escreve três páginas, à mão, sobre qualquer coisa que estiver na cabeça dela — e indica que todos façam o mesmo.

Escrever três páginas não é um exagero: o que ela afirma é que, independentemente do que se comece escrevendo, apenas a partir da metade do exercício é que a mente começa, de fato, a se abrir. Sentimentos que estavam adormecidos se manifestam; certas barreiras caem dando lugar à clareza. Julia chama isso de meditação para pessoas ativas, que sentem dificuldade em ficar paradas enquanto os pensamentos borbulham.

A autora ressalta ainda que é preciso deixar a escrita fluir, sem se influenciar por qualquer espécie de expectativa (por exemplo, de escrever certo) ou pelo receio de ter os seus pensamentos lidos. O único propósito da prática é se abrir ao máximo através da escrita.

Como praticar a escrita terapêutica

As páginas matinais são uma entre muitas maneiras de praticar a escrita terapêutica. Independente do quanto se escreva, de quanto tempo você invista e em qual momento do dia, o importante é colocar as emoções para fora sem julgamentos.

De forma geral, a escrita terapêutica é muito parecida com o exercício de escrita livre que sempre indico nas minhas oficinas de escrita criativa: basta escrever sem se preocupar com gramática, filtros ou julgamentos, sobre o primeiro pensamento que surgir na sua cabeça.

Outras dicas para você praticar a escrita terapêutica:

  • Procure escrever à mão, assim você evita ficar escrevendo e apagando;
  • Permita-se erros gramaticais, de grafia e de concordância;
  • Deixe os filtros e julgamentos de lado para liberar seus sentimentos ao longo da escrita;
  • Escreva no seu tempo e o quanto quiser;
  • Procure tornar a prática um hábito, mesmo que depois de alguns dias você se sinta melhor;
  • Escreva tendo em mente que você será o único leitor dos seus textos (a não ser que você queira mostrá-los para alguém de confiança, como um psicólogo);
  • Esteja pronto para novas percepções e contradições durante a prática;
  • Continue escrevendo pelo tempo que for necessário. A escrita terapêutica é um processo que evolui de diferentes maneiras para cada um.

Exercícios e benefícios

Além das práticas mencionadas anteriormente, há uma série de exercícios de escrita terapêutica que podem ser realizados de acordo com as questões pessoais que você está explorando no momento.

Eu reuni 10 destes exercícios em um outro artigo, que você pode ler clicando aqui.

Entre eles estão ideias para transformar sua ansiedade em um monstro, escrever cartas que não serão mandadas, entrevistar seus eus do passado e do futuro, imaginar sua personagem favorita enfrentando os mesmos problemas que você, entre outros.

Assim como as provocações de escrita, exercícios de escrita terapêutica são ótimos para momentos em que os pensamentos precisam ser direcionados a algum assunto específico.

Caso você queira se aprofundar um pouco mais no assunto, recomendo também outro artigo, no qual listei cinco benefícios da escrita terapêutica.

A escrita proporciona liberdade

A escrita proporciona liberdade, partilha, imaginação e autoconhecimento. Desconheço arma mais poderosa contra a autoindulgência, a confusão mental e os acessos de raiva do que sentar para escrever. 

Se eu tivesse ficado ruminando meus pensamentos, sem escrevê-los, quem eu seria? Pensamentos hoje feios e simplórios quando os releio, mas que eram urgências no dia em que os coloquei no papel.

Então, se você está enfrentando alguma questão interna, por favor, escreva sobre ela. Por mais boba que pareça, por mais complexo que seja falar sobre ela, escolha um caderno bem bonito e comece a escrever.

Quem escreve sobre escrita

Mylle Pampuch

Mylle Pampuch escreve e edita livros. Publicou as histórias em quadrinhos A Samurai e Doce Jazz e os livros de contos A Sala de Banho e Realidades pré-distópicas (& modos de usar). Ministra oficinas de escrita criativa, orienta autores em seus projetos literários e incentiva todos que queiram a escrever e publicar suas próprias histórias.

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