Clubes de leitura: o que são, do que é preciso para começar um e porque você deveria encontrar um para chamar de seu

C

Participar de um clube de leitura e ter a companhia de outros leitores para conversar sobre livros pode proporcionar muitos aprendizados para quem escreve.

No entanto, para que isso aconteça, é preciso encontrar um grupo disposto, comprometido e com um mediador que saiba coordenar as atividades para manter os participantes unidos.

Nesse artigo, falarei sobre o que são clubes de leitura, desde quando existem, quais as principais práticas, como montar o seu próprio clube de leitura e porque você, como escritor, deveria encontrar um para chamar de seu.

O que é um clube de leitura?

De maneira simples, um clube de leitura é um grupo de pessoas que lêem o mesmo livro e se reúnem, de tempos em tempos, para conversar sobre cada uma das obras. 

Ler, por si só, é uma atividade que conecta as pessoas. No entanto, ao ter a companhia de outras pessoas lendo o mesmo livro que você, a leitura se torna uma atividade compartilhada.

As obras selecionadas podem ser de ficção ou não-ficção – a escolha depende do objetivo do grupo e do mediador do clube.

O único pré-requisito é que cada um dos participantes leia, de forma atenta, o livro escolhido do início ao fim para poder somar na conversa.

A brevíssima história dos clubes de leitura

Desde que existem livros para ler, existem pessoas reunindo-se para lê-los e discutir sobre eles.

Lá no ano 400 a.C., Sócrates reunia seus pupilos para ler e conversar sobre questões políticas e filosóficas.

Para manter o grupo unido, Sócrates escolhia algum texto instigante com o intuito de provocar os participantes. Dessas leituras seguidas de conversa, nasceram os famosos Diálogos de Platão. 

Seguindo a tradição dos filósofos, ao longo da história muitos criaram clubes de leitura. Entre eles, vale a pena citar os escritores e as feministas.

The Bloomsbury Group, do qual a escritora Virginia Woolf e o escritor E. M. Forster faziam parte, nasceu em 1907 e continuou se encontrando até os anos 1930. Juntos, eles estudavam a modernidade na literatura, na economia e na arte.

Outro grupo de escritores que é impossível de esquecer é o de Gertrude Stein. 

Conhecida por receber e aconselhar nomes como Ernest Hemingway, James Joyce e F. Scott Fitzgerald, Gertrude também tinha o local preferido para as reuniões: uma pequena biblioteca apelidada de Stratford-on-Odeon, apelido que deu nome ao clube.

As mulheres, aliás, têm um papel fundamental na manutenção dos grupos de leitura. 

Sem acesso aos estudos formais na idade adulta, muitas delas se reuniam para ler e discutir sobre assuntos variados.

Sarah Atwater foi uma intelectual do século XIX que queria incentivar mulheres a desenvolver o pensamento crítico. 

Para isso, ela chamou 11 amigas, fez um plano de exercícios e fundou o grupo Friends in Council. Hoje, é um dos clubes mais antigos ainda em atividade.

No Brasil, os clubes de leitura funcionam de maneira independente, seja por iniciativa de leitores apaixonados ou de instituições.

Um dos movimentos que vem ganhando mais destaque é o Leia Mulheres, que reúne pessoas interessadas em difundir a leitura de livros escritos por mulheres. 

Com grupos em inúmeras cidades, com a ajuda do Facebook, é possível encontrar um pertinho de você para ler junto e interagir.  

Faz sentido de um clube de leitura em tempos de internet?

A internet, essa linda, nos proporciona alegria, conexão, distração e informação, muita informação.

Se antes as pessoas se reuniam para falar sobre livros porque o acesso a eles era restrito, qual o sentido de perder tempo com um clube de leitura agora?

Bem, porque apesar da internet, as pessoas continuam sendo pessoas – e continuaremos assim até que a inteligência artificial nos domine.

Ainda precisamos nos conectar uns com os outros e sair de dentro das nossas cabeças. Apenas assim teremos uma nova visão sobre nossas leituras.

O objetivo do grupo não é apenas partilhar informação, como antes. Agora o importante é partilhar a experiência da leitura com pessoas que estão dispostas a te ouvir.

Afinal, fazer parte de um grupo que te ajude a descobrir novas leituras e esteja disposto a conversar com você sobre livros não parece tão ruim assim, não é?  

E, acima de tudo, é essencial ter uma curadoria sobre o que ler e como ler. 

Com tanta gente produzindo, escrevendo e se expressando, é fácil se perder entre livros, textos e informações – e toda a ajuda para novas descobertas é bem-vinda.

Como montar um clube de leitura – tanto presencial quanto online

Se você chegou até aqui, com certeza está pensando em começar o seu próprio clube de leitura. 

De maneira breve, abordarei os quatro aspectos essenciais para que seu projeto seja bem-sucedido:

  1. Temática das leituras;
  2. Periodicidade e duração dos encontros;
  3. Local para os encontros;
  4. Mediação do grupo.

1. Temática das Leituras

A primeira pergunta que você deve se fazer é: qual experiência gostaria de proporcionar aos participantes?

Você pode querer ler um livro específico (no caso do livro ser mais longo), ou um gênero (ficção, não-ficção, poemas, quadrinhos), ou quem sabe até de uma determinada mídia (apenas livros publicados no Wattpad).

De uma forma ou de outra, você precisa definir um tema de leituras para o seu grupo. E é através desse tema que as leituras serão escolhidas.

Tudo bem se você quiser sugerir um livro de poemas no primeiro encontro e um livro de filosofia no segundo, mas é possível que isso afaste alguns leitores do seu clube.

Todos temos preferências e objetivos pessoais. Definir um tema de leitura dará segurança aos leitores para continuar participando do seu clube ao longo dos encontros.

2. Periodicidade e duração dos encontros

É sua função, como mediador, decidir de quanto em quanto tempo os encontros acontecerão e qual será a duração de cada um.

Como coordenador, é o seu papel definir o funcionamento dos encontros.

A forma mais fácil de fazer isso é definir a periodicidade de acordo com a disponibilidade dos participantes. 

Se todos estiverem dispostos a ler um livro de 500 páginas por mês e se comprometerem com isso, por que não?

Já a duração das conversas pode variar de acordo com o tamanho do grupo e de quanto cada um está disposto a falar sobre a sua leitura.

Grupos pequenos podem ter problemas em conversar por mais de duas horas sobre um livro; enquanto grupos grandes podem necessitar de mais de três horas de conversa.

O importante é ressaltar que, como mediador do grupo, seu papel é manter as conversas focadas no livro, evitando assim que o tempo dos encontros seja desperdiçado.

3. Local para os encontros

Mas será que faço meu clube de leitura presencial ou online?, você pode estar se perguntando.

Para responder, retomo a pergunta: qual experiência gostaria de proporcionar aos participantes?

Já que o principal objetivo do grupo é trocar experiências sobre leituras, o fato de ser presencial ou online torna-se secundário.

Pensando nisso, algumas questões que você pode explorar são:

  • Há pessoas interessadas no tema que escolhi na minha cidade?
  • Quero incentivar as pessoas a conhecer novos lugares através do meu clube de leitura?
  • Tenho algum outro objetivo com a atividade? (como divulgar um espaço, um curso ou incentivar as pessoas a ler algum autor específico)
  • É importante para as leituras que o grupo se encontre de forma presencial?
  • Os participantes que quero atingir podem sair de suas casas para o encontro?

Nada impede, é claro, que o seu grupo comece a se reunir online e depois queira se encontrar em algum café, bar ou biblioteca – e vice-versa.

Tanto em grupos presenciais quanto online você pode propor atividades além da leitura como sorteios de livros, lanches que combinem com o tema, quizzes e desafios.

4. Mediação do grupo

Um clube de leitura bem coordenado é a chave para o sucesso. Como tudo na vida, é preciso ter resiliência para reunir leitores comprometidos em ler e participar.

O papel do mediador é manter o grupo unido e funcionando. Para isso, é preciso manter-se focado no tema escolhido, na periodicidade dos encontros, na condução das conversas e na forma como os encontros acontecerão.

Ao mediador cabem todas as decisões finais e a garantia de um ambiente seguro e respeitoso para as conversas.

O mediador não é um professor e seu papel não é o de ensinar, mas sim o de coordenar as atividades e incentivar o grupo a ler cada vez mais.

Clube de leitura para escritores

Além de gostar muito de ler, o escritor, obviamente, gosta de escrever. Só que quando escrevemos (e falo por experiência própria) ficamos presos em nossas cabeças por muito, muito tempo.

Não há problema em passar um bom tempo consigo mesmo (eu até prefiro), mas isso nos faz esquecer de pensar como leitores.

Há dois tipos de clubes de leitura para escritores:

  • De livros e leituras já publicadas, que ajudam a ter contato com outros leitores e ideias;
  • De textos e obras em fase de composição, que contam com a presença do autor do texto. Este escuta os apontamentos dos demais participantes e ganha uma nova visão sobre o que pode ser melhorado.

Ambos são ótimas experiências para quem quer aprimorar a sua escrita, já que colocam o autor em contato com outros olhares e outras formas de pensar.

Se você quer entender como leitores de um gênero específico pensam (talvez os leitores do gênero que você escreve), participe de um grupo que leia livros parecidos com os que você escreve ou deseja escrever.

Se você está escrevendo ou terminou de escrever o seu livro e está em busca de outros leitores e escritores dispostos a te ajudar a melhorá-lo, ingresse em um grupo de leitura que leia textos em fase de composição.

Aqui na Oficina de Escrita, os associados ao Clube OdE têm acesso ao clube de Leituras Construtivas, no qual escritores leem os textos uns dos outros e se ajudam mutuamente.

Além de participar de um clube de leitura, os associados recebem conteúdos exclusivos toda semana por e-mail com assinaturas mensais super acessíveis.

Agora que você já conhece o básico sobre clubes de leitura, que tal fazer uma busca para encontrar um grupo de leitores e partilhar com eles a sua paixão por livros e escrita?

1 comentário

Quem escreve sobre escrita

Mylle Pampuch

Mylle Pampuch escreve e edita livros. Publicou as histórias em quadrinhos A Samurai e Doce Jazz e os livros de contos A Sala de Banho e Realidades pré-distópicas (& modos de usar). Ministra oficinas de escrita criativa, orienta autores em seus projetos literários e incentiva todos que queiram a escrever e publicar suas próprias histórias.

Artigos