“Um grande contador de histórias é o gentil capitão que navega seu navio com tremenda sabedoria e coragem sem limites.”
“Num mundo inundado de informações irrelevantes, clareza é poder.” Yuval Harari abre o livro 21 lições para o século 21 com essa frase e a complementa, dizendo que “em teoria, qualquer um pode se juntar ao debate sobre o futuro da humanidade, mas é muito difícil manter a visão lúcida.”
Enquanto Harari se preparava para dissecar o homo sapiens em Israel, uma jovem publicitária nascida no Leste Europeu começava a construir um dos maiores blogs sobre cultura, livros e leituras já publicados: o Brain Pickings.
Desde a criação de uma newsletter semanal com seleções de citações de suas leituras, em 2007, Maria Popova transformou-se numa curadora de ideias, colocando milhares de leitores ao redor do mundo em contato com o melhor já escrito pela humanidade, de Pitágoras a Rebecca Solnit.
Sua extensa bagagem de leituras – ela declara trabalhar 450 horas por mês lendo e produzindo material para o seu site –, além de dar origem ao livro Figuring, lançado em 2019 e disponível em e-book na Amazon, ajudou-a a desenvolver um olhar crítico sobre a quantidade de informações produzidas hoje e como essa enxurrada de notícias, livros, postagens e textos é consumida por todos nós.
Neste vídeo, publicado em 2014 pelo projeto Future of StoryTelling, Maria Popova nos mostra como contar histórias pode ser uma das principais ferramentas que temos para transformar informação em sabedoria.
Já no início do vídeo, ela fala que apesar de acreditarmos que o fato de termos mais acesso a informação nos torna mais sábios, o efeito em nossas vidas é o inverso: estamos nos tornando cada vez mais confusos.
Além disso, a sociedade nos pressiona a sempre estar “bem informados” e atualizados sobre os últimos acontecimentos – sejam eles relevantes, como notícias, ou menos factuais, como a última série do Netflix ou os memes mais recentes do Twitter – e essa urgência deturpa a nossa capacidade de refletir sobre o que estamos consumindo.
“Cada vez mais informações sem o devido contexto e interpretação apenas modelam a nossa compreensão do mundo em vez de enriquece-la. A abundância de informações disponíveis também criou um ambiente onde um dos piores pecados sociais é parecer desinformado. Na nossa cultura é enormemente embaraçoso não ter uma opinião sobre algo. E, para nos mantermos informados, recorremos a opiniões precipitadas, baseadas em fragmentos de informação e impressões superficiais, em vez de buscarmos a verdadeira compreensão.”
Para diferenciar os conceitos de informação, compreensão e sabedoria, Maria Popova propõe que eles sejam organizados em uma Escada da Compreensão:
“Na sua base está uma fonte de informação, que nos diz simplesmente alguns fatos básicos sobre o mundo. Acima disso está o conhecimento – a compreensão de como diferentes fragmentos de informação se encaixam para revelar alguma verdade sobre o mundo. O conhecimento depende de um ato de correlação e interpretação. No topo está a sabedoria, que tem um componente moral – a aplicação da informação que vale a pena recordar e do conhecimento válido para compreender não só como o mundo funciona, mas também como ele deve funcionar. E isso requer uma estrutura moral do que deve e não deve importar, bem como um ideal de mundo na sua potencialidade mais elevada.”
E é exatamente aqui, no subir e descer da escada, que o contador de histórias, o storyteller – que são não só escritores, mas também jornalistas, cineastas, editores e curadores –, entra em ação. É através da narrativa, e de como ela é construída, que uma mera informação se torna sabedoria.
“Um grande contador de histórias – seja um jornalista ou editor ou cineasta ou curador – ajuda as pessoas a descobrir não só o que é importante no mundo, mas também porque é importante. Um grande contador de histórias avança na escada da compreensão, desde a informação ao conhecimento até à sabedoria. Através de símbolos, metáforas e associações, o contador de histórias ajuda-nos a interpretar a informação, a integrá-la com o nosso conhecimento existente, e a transmutá-la em sabedoria.”
Dessa forma, uma grande história não teria apenas a capacidade de informar, mas o elevado poder de não dar outra saída a quem a vê ou lê além de expandir a compreensão – seja sobre o mundo, sobre algum lugar ou sobre nós mesmos.
Para Maria Popova, o contador de histórias moderno está na lacuna entre a informação, cada vez mais barata, e a sabedoria, cada vez mais cara:
“Eu penso nisso [na lacuna] da seguinte forma:
Informação é ter uma biblioteca de livros sobre construção naval. Conhecimento é aplicar essa coleção de livros à construção de um navio. O acesso à informação – aos livros – é um pré-requisito para o conhecimento, mas não sua garantia.
Uma vez construído o navio, a sabedoria é o que lhe permite navegar sem se afundar, a protegê-lo da tempestade que se aproxima do horizonte na calada da noite, e a orientá-lo apenas para que o vento sopre vida nas suas velas.”
E é o discernimento moral que, após conquistado, ajudará o capitão-contador-de-histórias a determinar qual é a direção correta para apontar o seu navio:
“Um grande contador de histórias é o gentil capitão que navega seu navio com tremenda sabedoria e coragem sem limites; que aponta o seu nariz na direção de horizontes e mundos escolhidos com idealismo e integridade inabaláveis; que nos aproxima um pouco mais da resposta, da nossa resposta particular, a essa grande pergunta: Porque estamos aqui?“
Se você quer contribuir, mesmo que um pouquinho, a clarear o maremoto de informações do mundo e guiar seus leitores em busca da sabedoria, complemente essa leitura com os artigos sobre como estruturar narrativas inesquecíveis, porque gostamos tanto de contar e ouvir histórias e com a comparação de Neil Gaiman sobre andar pelado na rua e contar histórias verdadeiras.
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