5 exercícios de escrita simples para te ajudar a escrever todos os dias

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Escrever bem é um treino. Apesar de existir essa aura de que o bom escritor já nasce pronto, todos os cânones tiveram sua boa dose de arroz com feijão: leram muito e escreveram muito.

E quando eu digo muito, é MUITO mesmo.

De Goethe a Stephen King, não tem erro: todos os grandes escritores mantêm rotinas diárias de leitura e de escrita. 

Alguns, como Ray Bradbury, podem ter declarado em entrevistas que o amor pela escrita sempre foi tão forte desde a infância que não tiveram problemas em criar uma rotina.

Outros, como Maya Angelou, falam sobre seus rituais pouco convencionais de escrita: alugar um quarto de hotel e escrever acompanhada por um baralho, uma Bíblia e um tesauro, uma espécie de dicionário de ideias.

Ou ainda, como Clarice Lispector, a frente do seu tempo até nas manias, escrevia sentada na cama, com a máquina de escrever no colo.

Essas e outras revelações de hábitos excêntricos dos escritores deixam qualquer aspirante com um pé atrás. Mas calma: não há nenhuma relação em ser diferentão e escrever bem. Aliás, quanto mais sem graça e repetitiva for a sua rotina, melhor.

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A repetição é o caminho para o hábito

Voltemos ao Stephen King. Ele já declarou diversas vezes, inclusive no seu livro Sobre a Escrita, que lê 80 livros por ano e escreve seis páginas por dia – assustando até seu companheiro de entrevista George R.R. Martin. Com 200 livros publicados em 46 anos de carreira – uma média de 4,35 livros por ano – ele ainda encontra tempo para caminhar 10km por dia e twittar nas horas vagas.

Outro escritor que chama a atenção por sua rotina é Haruki Murakami. Quando está no “modo romancista”, ele acorda às 4 da madrugada, escreve por seis horas seguidas, almoça, corre por 10km ou nada 15 piscinas de 100 metros (ou ambos!) lê um pouco, escuta música e dorme. No dia seguinte, começa tudo outra vez.

Apesar da coincidência, correr uma maratona não é pré-requisito para ser um bom escritor (ainda).

Mas perceba que todos os escritores que mencionei declaram algo em comum: que a repetição é o mais importante.

Aí você pensa: bem, se eu devia estar lendo e escrevendo (ou correndo) como o Stephen King, o que estou fazendo aqui?

Calma que não é tão simples assim. A empolgação pode até te fazer escrever todos os dias por uma semana ou um mês, mas sozinha não será capaz de te manter escrevendo até o final do livro. Ou do projeto. Ou da série de posts pras suas redes sociais.

Para isso você precisa criar o hábito da escrita.

Defina o seu objetivo de escrita

Antes de sair escrevendo por aí, é interessante definir qual é o seu objetivo com a escrita. Seja simples e sincero com você mesmo. Tem muita coisa que pode ser escrita, então é bom escolher o mais cedo possível. Quero escrever um diário é muito diferente de quero escrever um livro de contos que é mais diferente ainda de quero escrever textos para minhas redes sociais.

A graça de ter um objetivo é que ele te mantém escrevendo ao longo dos dias. Dar significado gera um quentinho no coração e torna a escrita consistente.

Se você tiver dificuldade em encontrar um objetivo mas quiser muito escrever, pode ficar tranquilo porque tenho o objetivo perfeito para você: treinar a sua escrita. 

Lembra que eu disse antes que a escrita é treino? Chegou a hora de assumir isso de uma vez.

Quebre o trabalho herculiano em pedaços menores

Sei que você está animado para começar logo a escrever, mas antes preciso te lembrar de algo: escrever vai dar mais trabalho do que você imagina. Mesmo que a paixão da sua vida seja lançar palavras no papel, vai dar trabalho.

Por isso, agora que você tem um objetivo, desmembre-o em pedacinhos menores – de preferência pedacinhos do tamanho do tempo que você tem disponível por dia para escrever.

Ah, mas eu só quero fazer um diário ou eu só quero treinar, você me diz. Diários e treinos tomam tempo e são fáceis de serem deixados de lado. Quanto antes você se comprometer com eles, melhor.

Lembre-se: a ideia é te ajudar a escrever todos os dias. E, para isso, você terá que se desapegar dos exemplos de outros escritores (inclusive os que mencionei no início) e descobrir o que funciona melhor para você.

Em outras palavras, chegou a hora de encontrar o seu processo criativo. E só há uma maneira de fazer isso: testando o que funciona melhor para você.

Processo criativo tem tudo a ver com quanto, como e porque escrever. Mas, antes de se perder no mar de possibilidades e sair testando, deixa eu te contar: todos os processos criativos passam pelas mesmas etapas – e você pode começar a praticar cada uma delas com os próximos exercícios que separei.

Exercício 1: Escreva logo depois de acordar (ou o mais cedo possível)

Você vai trocar o seu celular por um caderno e um lápis (ou uma caneta, ou uma lapiseira, se preferir). Ao invés de escrever mensagens de bom dia no grupo da família, você vai escrever o que quiser no seu caderno, o mais cedo possível.

Você conhece esse lugar: você acabou de abrir os olhos e sua cabeça está livre das preocupações. Aproveite o momento de contato mínimo com o mundo para criar.

Escreva sem se preocupar com regras gramaticais, pontuação, coerência e, muito menos, se você está escrevendo as palavras de forma correta. Escreva como sair, o mais parecido possível com os seus pensamentos no momento.

Faça alguns testes. Um dia, acorde e escreva. Noutro, acorde, vá ao banheiro e escreva. No terceiro, acorde, tome café e escreva.

Alguns escritores descrevem esse momento como um sonhar acordado – e não há como discordar. 

Colocar a escrita como a primeira atividade do dia tem inúmeras vantagens. A mais evidente delas é a de dever cumprido. Já que escrever é um compromisso que fazemos com nós mesmos, ter esse compromisso como prioridade diária contribui demais para a autoestima. 

Exercício 2: Determine o tempo de escrita ou a quantidade de páginas

Mas é claro que só acordar e sair escrevendo é, no mínimo, vago. Por isso, é hora de voltarmos ao seu objetivo de escrita e complementá-lo: além de saber o que você vai escrever, é preciso saber o quanto.

Existem duas formas de fazer isso: determinando por quanto tempo ou quantas páginas você vai escrever. Simples assim. 

(É possível ainda pensar na contagem de palavras ou caracteres, mas lembre-se que estamos escrevendo em um caderninho, por enquanto).

Você pode encarar esse exercício de duas maneiras: como um desafio (para quem escreve menos do que gostaria) ou como um limite (para quem não consegue parar de escrever). 

Nos dois casos, há um bônus em comum: você saltará do achismo de que é impossível escrever todos os dias e passará a adaptar na sua rotina as suas sessões matinais de escrita.

Em outras palavras, a escrita se tornará um hábito.

Exercício 3: Registre seu rendimento diário de escrita

Mas, é claro, há sempre um gatilho psicológico capaz de tornar o hábito ainda mais interessante. No caso da escrita o gatilho é manter um registro do seu rendimento diário.

Faça uma tabela simples e, sempre que terminar a sua sessão matinal de escrita,  anote a data, por quanto tempo você escreveu, quantas folhas e, se quiser, o assunto.

Para muitos, só o fato de manter a tabela preenchida todos os dias já será um incentivo para retomar o trabalho. Registre tudo: treinos, diários, contos, poemas, artigos e o que mais você inventar. Dependendo do seu estágio como escritor, você terá mais de uma sessão de escrita por dia: registre todas que puder.

Com o tempo, essa tabela se tornará a prova física da sua evolução como escritor – assim, sempre que você achar que não está indo a lugar algum, poderá olhar para ela e comprovar que estava completamente enganado.

Exercício 4: Leia o que você escreveu no dia anterior

A dica agora é pra quem já começou ou quer começar um projeto de escrita sem se perder no meio do caminho.

Sempre leia o que você produziu no dia anterior antes de começar sua sessão diária de escrita. Faça uma boa leitura, atento aos detalhes que você mesmo explorou no texto e, só então, comece a escrever.

Essa prática te ajudará não só a memorizar os detalhes do seu texto mas também vai te estimular a pensar nele ao longo do dia – em especial, se você estiver trabalhando em uma narrativa longa.

E bem, pensar no que você está escrevendo ao longo do dia e carregar um caderninho para anotações são sinônimos, hein?

Leitura e releitura contribuem também para uma das práticas mais importantes da escrita: a reescrita. Reler o próprio texto e aprender a melhorar o que não ficou tão bom assim é questão de sobrevivência para qualquer escritor

Mas vamos deixar esse assunto para outro momento. Por enquanto, preocupe-se apenas em criar.

Exercício 5: Faça uma limpeza nas suas ideias

Antes de criar, às vezes é preciso tirar um amontoado de lixo do caminho. Para os dias em que, mesmo tentando escrever logo depois de acordar tudo o que você pensa são os boletos, use a escrita para jogar fora as suas preocupações.

Seria perfeito poder se desligar do mundo e manter o mesmo ânimo de escrita todos os dias, mas não há hábito que evite os dias menos produtivos. Por isso, guarde a sua arma da limpeza para esses dias e use-a sempre que precisar.

Há essa ideia de que o escritor precisa escrever uma obra prima por dia e que, se não o fizer, é melhor nem chegar perto do papel. Mas essa ideia é, no mínimo errada. Todo escritor precisa escrever vários textos ruins para produzir um bom – e, dentre esses textos ruins, estão todo o tipo de preocupação mundana.

Jogue tudo o que você precisar fora, por quantos dias achar necessário, mesmo que, para isso, você tenha que se afastar do seu projeto principal (caso você tenha um). Quanto mais liberdade você se der para se expressar através das palavras, mais o hábito da escrita fará parte da sua vida.

Escreva todos os dias e aproveite a viagem

É muito fácil sair falando vai lá e escreve ou você deveria estar escrevendo. Se fosse tão simples assim, não haveria tanto material sobre escrita nem tanta gente desistindo antes de terminar o primeiro livro.

Por isso, eu insisto: todo o escritor precisa ter o hábito da escrita. Escrever todos os dias é o requisito básico para qualquer um que queira desenvolver um trabalho consistente e duradouro com o auxílio das palavras.

Seja livro, blog, vídeo, rede social, aula online, diário, podcast: tudo começa com a escrita. Quanto mais você treinar a sua escrita, melhor será a sua capacidade de transmitir ideias, conhecimentos e mensagens.

Para finalizar, quero te propor um desafio: escreva todos os dias durante trinta dias, definindo o tempo ou a quantidade de páginas e registre o seu rendimento diário. Depois, volte aqui e me conte como foi.

Agora aponte seu lápis, separe uma página em branco e boa escrita!

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Quem escreve sobre escrita

Mylle Pampuch

Mylle Pampuch escreve e edita livros. Publicou as histórias em quadrinhos A Samurai e Doce Jazz e os livros de contos A Sala de Banho e Realidades pré-distópicas (& modos de usar). Ministra oficinas de escrita criativa, orienta autores em seus projetos literários e incentiva todos que queiram a escrever e publicar suas próprias histórias.

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